Quais são os impactos do conceito de ESG na atração e retenção de profissionais?

Foi para debater sobre esse tema que a Talenses Executive reuniu Denis Hills, Global Sustainability Director na Natura; Márcio Utsch, presidente do Conselho na Cemig e Luiz Valente, CEO do Talenses Group, como painelistas e Priscila Claro (professora associada no Insper) em uma roda de conversa produtiva e engrandecedora.

Para introduzir o assunto, Valente apresentou os resultados de um levantamento realizado pela Talenses Executive com 201 executivo(a)s da alta liderança. Em seguida, Priscila Claro questionou sobre o significado da sigla em si e sua evolução nos últimos anos, utilizando como base dados da pesquisa que demonstraram que praticamente 50% dos respondentes ouviram o termo “ESG” pela primeira vez apenas entre 1 a 3 anos.

Denise explicou que a sigla em inglês possui três pilares fundamentais, que traduzidos correspondem ao teor ambiental / social / governança. Já é um tema conhecido e debatido mundialmente, com marcos importantes em que investidores reconhecidos passaram a sinalizar que levariam em conta estes fundamentos para pautar suas operações. Denise afirmou ainda que “como efeito de nossa participação como pessoas no planeta, a gente vem lidando com novas realidades desse impacto e as empresas não são imunes a isso, pelo contrário: são grandes vetores de transformações positivas.” Segundo ela, o tema passou dos bastidores nas páginas do caderno de sustentabilidade para ganhar o holofote nas primeiras páginas dos veículos de comunicação.

 

Priscila complementou e resgatou, na sequência, a ideia de “economia” que está por trás do conceito. Falar sobre ESG é falar sobre geração de valor, levando em consideração aspectos ambientais, sociais e de governança. Se não colocar isso em perspectiva, muita resistência ainda será perpetuada decorrente do receio de não priorizar também o lado financeiro que é igualmente importante.

 

Márcio Utsch reafirmou essa visão: “empresa precisa, antes de tudo, ganhar dinheiro”. Ele disse que não consegue imaginar uma empresa que não ganhe dinheiro, mas ao mesmo tempo não consegue também materializar uma empresa em que não esteja genuinamente engajada com os outros pilares que estão por trás de ESG. Ele encerrou sua fala, ainda, assinalando que não pensa que um departamento específico de ESG deveria existir nas empresas. A justificativa é que se trata de algo tão basilar quanto lucro, e, por isso, não demanda um departamento específico, mas sim uma integração e priorização desse conceito em todos as áreas existentes, assim como acontece com o lucro de uma forma quase que inerente e natural.

 

Luiz Valente traçou um panorama histórico da origem e evolução do conceito de ESG e defendeu que acabou tomando mais relevância nos últimos 10, 15 anos com o crescente desequilíbrio social, níveis alarmantes de degradação ambiental e escândalos nos setores privados / públicos mundo afora que despertaram uma necessidade de voltar os olhares para ESG. Valente fechou ainda afirmando que atuais crises de confiança reiteram essa realidade, e acabam por enaltecer a importância de colocarmos em evidência os teores sociais, ambientais e de governança nas pautas de organizações e governos.

 

Márcio seguiu afirmando que razões econômicas acabaram direcionando o amadurecimento dos conceitos que estão por trás da sigla ESG. O momento atual é um momento de ruptura nos modelos de negócios, que causa uma sensação de ansiedade e de perda, com um excesso de informações disponíveis, que muitas vezes não são informações de qualidade.

 

Denise, por sua vez, afirmou que estudos recentes mostram que “sustentável” alavanca o “rentável”, e não mais são conceitos que andam separados. Sabiamente, ela disse que “empresas que têm compromisso rigoroso com ESG mostram que elas continuam pertencendo, como empresas, ao tempo em que vivem”. Uma provocação interessante que ela trouxe foi: como as empresas podem contribuir para, gerando resultados, serem soluções para problemas que vão além delas mesmas?

 

Para tirar a agenda do papel, Márcio entende que algumas empresas sintetizam revoluções no mercado em que atuam. Segundo ele, “uma empresa autoral é mais do que uma empresa inovadora”. Torcemos para empresas que de fato praticam e prezam por atitudes que tenham a ideia de ESG em seu DNA. As pessoas acabam valorizando o que as empresas valorizam, e isso é o que gera vínculos duradouros e orgânicos, seja entre colaboradores e empresas ou entre clientes e empresas.

 

Sobre atração e retenção de talentos, Valente comentou sobre os desafios impostos por uma geração que presencia transformações diárias e instantâneas. As novas gerações são absoluta e genuinamente engajadas e cobram ações similares das organizações no âmbito de pautas que giram em torno de ESG. As empresas precisam efetivamente demonstrar que estão alinhadas com esses princípios para se tornarem mais atraentes para essas gerações com relação ao trabalho. Existe ainda uma outra questão por trás disso que é essencialmente financeira. Empresas que não atacarem pautas referentes a ESG terão mais dificuldades em financiar seus projetos, e correm riscos reputacionais relevantes frente à sociedade e aos demais players do mercado. Para atração e retenção, tão fundamental quanto o debate do tema, é essencial que a cultura organizacional transpareça que as ações reverberam, refletem e extrapolam o mero discurso.

 

Dando continuidade e respondendo a uma pergunta do público, Valente revelou que curiosamente não é tão comum que candidatos a vagas de empregos perguntem sobre ações de ESG. Há preocupações sobre modelo de governança são mais recorrentes, mas raramente surgem questionamentos específicos sobre práticas relacionadas à sustentabilidade e ao meio ambiente. No entanto, há sim uma preocupação legítima sobre a cultura organizacional.

 

Falar sobre ESG é falar sobre o papel social das empresas dentro do ecossistema em que pertencem. O tema é amplo e inesgotável e certamente encoraja a Talenses Executive a mergulhar mais profundamente no assunto, contribuindo com a mensuração e levantamento de dados sobre ESG no Brasil e promovendo outros debates de alto nível como este.