Neste encontro especial, o anfitrião João Marcio Souza (CEO Talenses Executive) conversou sobre a agenda da alta liderança em 2021 com convidados de peso: Andrea Napolitano (CEO da Gomes da Costa / Grupo Calvo para Região América) e com Liel Miranda (Presidente da Mondelèz Brasil). O evento contou ainda com a ilustre participação do professor Paul Ferreira (Diretor do Centro de Liderança da Fundação Dom Cabral) mediando a conversa entre todos.
Para contextualizar o bate papo, o professor Paul apresentou os resultados de uma análise comparativa dos últimos 4 anos sobre o tema realizada pela Talenses Executive e pela Fundação Dom Cabral com executivo(a)s da alta liderança. Em seguida, passou para perguntas e trocas com os painelistas.
Desafios enfrentados e aprendizados acumulados
Andrea começou já com uma fala marcante: “o maior desafio é entender que tudo é mutável e que não temos controle absoluto sobre praticamente nada”. Para ela, a imprevisibilidade dos desafios demanda uma capacidade adaptativa das pessoas, somada ainda à necessidade de apresentar resiliência para se reconstruir em momentos de crise. Para ela pessoalmente, foram os principais aprendizados que vieram neste momento de instabilidade.
Liel também concordou com a fala da Andrea, e acrescentou que agilidade e flexibilidade já eram importantes, mas foram levados a outro patamar durante esse período conturbado em que vivemos no último ano. Olhar para outras dimensões do negócio também tem um poder que antes não era tão explorado, no sentido de fazer parcerias com outras empresas para objetivos em comum e para o bem maior. Por exemplo, para dar suporte ao pequeno varejo e ao microempreendedor. Uma visão de ecossistema, e não mais meramente individual.
João também trouxe outras dimensões, de cunho mais filosófico. “Antes mesmo de aprendizados, o que eu vivi nesses 12 meses foram confirmações para ajudar a atravessar esse período tão cinza que vivemos”. Para ele, a pandemia colocou a humanidade (tanto no cenário coletivo quanto individual) no divã, na medida em que este foi um momento de muita reflexão e aprendizados. Citou ainda uma frase interessante que ele gosta muito para esse começo da conversa: “vamos começar de novo, e começar de novo não é reiniciar: é inventar um novo padrão”. E, para ele, esse é exatamente o momento em que vivemos hoje. Fechou sua fala dizendo que não podemos ser otimistas, mas precisamos ser confiantes.
Retenção de Talentos
Para Liel, no fim das contas o que faz diferença são sempre as pessoas. E a pandemia evidenciou essa realidade, intensificando a importância de dar autonomia para execução e desenvolvimento, bem como de investir em reter os talentos certos.
Andrea bateu na tecla das mudanças que vivemos nesse último ano. As alterações não se restringem ao plano profissional, mas envolve também o prisma pessoal. Entender necessidades individuais e ter certeza de que há identificação com a cultura da organização são prioridades, em sua opinião. E manter cultura é mais difícil em tempos de home office, motivo pelo qual ela argumenta que investir em comunicação mais intensa e empoderamento, para que a estrutura horizontal se sobreponha à hierarquia arcaica que até então estávamos acostumados. A mistura do privado com o ambiente de trabalho é um grande desafio, para equilibrar estes pilares da melhor forma possível.
A contribuição de João para o tema passa inevitavelmente pela sua experiência atuando no mercado de recrutamento: “eu particularmente não acredito em retenção de talentos. Acredito na atração permanente de talentos ou, em outras palavras, em um trabalho contínuo de encantamento das pessoas que hoje fazem parte da companhia”. Engajamento – e iniciativas nesse sentido – é mais proveitoso para definir este tema. Para ele, o tema de retenção tem 5 pilares fundamentais: (1) cultura, (2) projeto / perspectiva, (3) remuneração e benefícios, (4) liderança direta e (5) o legado deixado. Destes, ‘cultura’ e ‘liderança direta’ são os que possuem mais peso, sem prejuízo de manter o equilíbrio constante entre todas essas frentes.
O que é considerado um talento?
João acredita que a principal ação para desenvolver talentos é ter uma liderança engajada em mentorias das pessoas que trabalham em determinada organização. Ele acrescenta que precisamos ter muito cuidado ao definir ‘talento’ pois hoje o mercado colocou em uma prateleira o que é considerado um talento, de uma forma pré-definida e que não leva em consideração questões importantes de diversidade.
Andrea concorda com a visão do João. Os modelos em algum momento ficarão na história. Hoje, a questão da diversidade é um parâmetro que dita diretrizes. Ao invés de pasteurizar, a ideia é diversificar. Alçar pessoas diferentes do mainstream ao patamar de talentos é o grande diferencial do mundo atualmente.
Características dos líderes
Andrea elenca dois fatores característicos de lideranças. O primeiro deles é ‘paixão’. Um líder tem que ser genuinamente apaixonado pelo propósito e precisa ser guiado pelo que ele verdadeiramente acredita. O segundo é ‘intuição’. A tomada de decisão sem muitos dados. O mundo corporativo como ele foi estruturado bloqueava muito essa habilidade, mas precisamos incorporar esse conceito e entender que está tudo bem se falharmos, desde que consigamos corrigir a tempo de tentar de novo. Segundo ela, é urgente que incentivemos mais intuição nas tomadas de decisões.
“Essa pandemia nos mostrou que precisamos olhar para fora. Olhar para os nossos consumidores, fornecedores, comunidades. Assim ficamos mais ágeis e tomamos decisões melhores.” Com essa fala, Liel também complementou sua visão para 2021 como um “jogo infinito” em que não existe começo, meio e fim e concluiu sua visão contextualizando que a cada ano temos a oportunidade de fazer um ciclo melhor para a empresa, nos tornarmos um líder melhor e termos mais aprendizados.
João fala sobre a mudança de postura dos executivos ao longo da pandemia. Humanização e mais humildade estão no topo da lista, de acordo com ele. Hoje ouvimos mais ‘não, eu não sei e preciso de ajuda’ da boca dos executivos e executivas. E, ao mesmo tempo, se permitem ser com mais autenticidade. O sucesso da liderança hoje vem muito mais da maneira de ser do que simplesmente do como fazer. Com relação às competências:
– soft: mais paciente, compreensível, mais empático, mais colaborativo.
– estratégica: visão e consciência, antecipação e inovação, influência estratégica, ser digital e ter habilidades comunicativas.