SEGUNDA EDIÇÃO | Quebrando Paradigmas: A educação do profissional no futuro do trabalho

No segundo encontro da websérie “C-Talks” houve uma rica troca de ideias sobre o futuro do trabalho e como a intersecção com a educação exerce influência na formação desse profissional do amanhã. Especialmente no cenário atual, com o fator COVID atuando como catalizador de inúmeros movimentos / tendências, o bate papo foi muito produtivo e se baseou nos resultados de um levantamento exclusivo realizado pela Talenses Executive, consultoria de Executive Search, em parceria com a Fundação Dom Cabral, escola de negócios, com mais de 1.200 profissionais sobre o tema.

João Márcio de Souza (CEO de Talenses Executive) mediou o painel, que contou com a presença de personalidades de destaque tanto no setor corporativo quanto no campo da educação: Luiz Valente (CEO do Talenses Group), Reynaldo Gama (CEO HSM & Co-CEO SingularityU Brazil), Professor Paul Ferreira (Diretor do Centro de Liderança da Fundação Dom Cabral) e Rodrigo Galvão (Presidente da Oracle no Brasil).

Para quem não teve oportunidade de assistir ao vivo, disponibilizamos aqui no site www.c-talks.com.br o streaming, o resultado completo da pesquisa e abaixo uma breve exposição dos principais pontos debatidos.

Conceito / Desafios do Futuro do Trabalho

O Prof. Paul abriu o painel com a introdução do conceito de “futuro do trabalho” e com os principais desafios que permeiam este contexto. Para ele, hoje temos vários atores em cena, compondo um palco que muitos estudos tentam antecipar para o amanhã do mercado de trabalho. Ele destacou:

As várias gerações que compartilham o mesmo espaço e diferentes pontos de vista;
Tendências sócio-políticas que envolvem principalmente movimentos de migração de povos, facilitados pela globalização;
A crescente participação da força feminina, que reivindica um lugar que já deveria ser seu também;
Novas perspectivas para relações dentro das organizações; e
Sistema de educação que tende a acompanhar as mudanças no campo do trabalho.

Para o Prof. Paul, os impactos podem ser divididos em 3 grandes grupos:

Natureza: trabalho como atividade criativa VS trabalho como uma tarefa árdua e penosa;
Valor: utilidade percebida pelo trabalho VS remuneração; e
Educação / treinamentos corporativos: acompanhando as tendências.

Desenvolvimento de novas competências

Muito se falou sobre novas competências que surgem com velocidade impressionante durante o painel. Nesse sentido, complementando os resultados do levantamento apresentado no debate, Gama citou “mindset digital” e “inteligência emocional” como habilidades que passaram a ser muito valorizadas no cenário pós-pandemia.

Valente acrescentou ainda novas características e as habilidades comportamentais que considera as mais importantes para moldar o profissional do amanhã:

Life Long Learning (aprendizado contínuo ao longo da vida);
Project based;
Colaborativo;
Digital + Humano (complementaridade homem / máquina);
Economia sob demanda (freelancers);
Adaptabilidade;
Agilidade;
Empatia; e
Pensamento crítco.

Para fechar o assunto, Galvão também contribuiu com sua visão. Para ele, “autenticidade”, “consistência” e “transparência” são pilares essenciais para a formação de um profissional hoje, e estarão em alta também no profissional do amanhã.

O papel central da tecnologia

Confirmando os resultados do levantamento realizado pela Talenses e pela Fundação Dom Cabral, Galvão ressaltou o papel central da tecnologia, e como no mundo pós-COVID ela se tornou um catalizador de tendências.

Continuou ainda com uma provocação interessante: “qual meu papel nesse momento atual, como CEO de uma empresa de tecnologia?”. Sua fala trouxe a ideia de que no futuro tudo indica que grande parte dos empregos atuais já não mais farão sentido, e surgirão novas funções totalmente alinhadas com os avanços da tecnologia. Assim, ele enxerga como um grande desafio a falta de acesso à tecnologia por grande parte das pessoas. Ou seja, como fazer com que a tecnologia seja instrumento de conexão / agregação, e não que se torne uma barreira que impeça a formação de novos profissionais. Para ele, a tecnologia deve ajudar a criar formas de entendimento e de acesso, e sua função é criar ferramentas nesse sentido.

O que esperar da liderança?

O Prof. Paul trouxe interessantes inputs sobre as ideias de “liderança paradoxal” e “liderança compartilhada”. De acordo com ele, a capacidade de influenciar passa por mudanças importantes, visto que hoje é notória a ruptura de fronteiras organizacionais. Isto é, o profissional não mais se vê dentro dos limites da empresa em que atua, e consegue exercer engajamento além do que antes era possível. Além disso, hoje o fenômeno de complementaridade de decisões maximiza a quantidade de pessoas que contribuem nos processos de tomada de decisão de uma organização. Exemplo disso é a estrutura de Co-CEOs – ideia concretizada pela própria SingularityU Brazil na figura do Reynaldo Gama.

Galvão também somou com uma fala inspiradora sobre o tema. Pautado na filosofia de que “precisamos ser a melhor versão de nós mesmos”, ele defende que ser gestor nada mais é do que aplicar na vida profissional o que se pensa e vive no lado pessoal. Assim, quando se conecta a profissão com os propósitos individuais cria-se um grande movimento de pessoas que pensam no mesmo sentido. Para ele, o profissional do futuro é o que trabalha com “brilho no olhar”, e enxerga a empresa como um instrumento de transformação do mundo. Nessa perspectiva, é fundamental o alinhamento dos propósitos individuais com a cultura da organização.

Para exemplificar a importância deste lado humano, citou como exemplo a adoção de processos seletivos “às cegas” na Oracle, com o intuito de eliminar vieses inconscientes e filtrar aquele profissional que tenha sede de exercer o mesmo papel de mudança no mundo que ele próprio.

Valente fechou ainda reforçando a importância da cultura organizacional. Disse que a empresa que consegue disseminar de modo verdadeiro sua cultura sai na frente, inclusive com melhores resultados.

Tendências: repensando modelos tradicionais

A transformação do mundo em um mundo cada vez mais digital foi sem dúvidas uma das principais pautas discutidas. É uma mudança de cultura que ocorre cada vez mais urgente e com relevância.

O Home Office é uma manifestação evidente nesse sentido. Assim, o Prof. Paul destaca 2 dados de pesquisas realizadas pela Talenses e pela Fundação. O primeiro é que cerca de 80% das pessoas se sentem preparadas para o futuro. E provoca: será que somos bons avaliadores de nossa própria preparação? Preparados para o que, em meio a mudanças tão rápidas e fortes movimentos de “skilling”?  De todo modo, diz ser um otimismo muito importante, que vem acompanhado da alta capacidade de reação das organizações ao se adaptarem à nova realidade. Assim, o segundo dado de pesquisas realizadas pela Talenses e pela Fundação que o Prof. Paul se utiliza em sua fala é que em menos de 2 semanas as empresas que passaram a adotar políticas de Home Office passaram de aproximadamente 20% para mais de 70%.

“O modelo de ‘one size fits all’ já não funciona mais”, afirmou Gama. Ele enxerga oportunidades que surgem da necessidade de entender com profundidade a realidade dos profissionais, estudantes e dos professores em um Brasil tão heterogêneo e onde o fator social exerce inegável influência. Tendências podem surgir em “meios do caminho” no pós-COVID: nem 100% Home Office nem 100% espaço físico, mas possibilidades híbridas. Galvão complementa nesse sentido: “Home Office tem que ser opcional”, e acrescenta que hoje já provoca reflexões na Oracle sobre o motivo de hoje existir a sede em um só prédio, enquanto podiam usar vários espaços físicos que abririam possibilidade para que os colaboradores escolhessem se querem trabalhar de casa ou do escritório – e de qual escritório querem trabalhar.

O medo e as perspectivas para o futuro

Para fechar a discussão, os participantes trouxeram visões interessantes sobre o último dado da pesquisa realizada pela Talenses e pela Fundação – de que quase metade dos respondentes afirmam sentir medo do que está por vir ao ouvirem conceitos / tendências sobre futuro do trabalho no mundo pós-COVID.

Para Gama, o medo é importante, na medida em que nos deixa mais atento e é um fator primordial para trazer a coragem.

O Prof. Paul compartilha dessa visão positiva enxerga o medo como uma oportunidade para um momento de transformações sem igual na história recente.

Galvão reforça que o digital é uma nova atitude e que a pandemia trouxe uma visão urgente e catalizadora que fez com que as empresas percebessem a importância disso e reagissem com agilidade.

Valente fechou destacando o novo modelo de aprendizagem contínua como uma necessidade recorrente de entender inovações / novos métodos. Ou seja, a educação exerce papel essencial ao provocar a reciclagem constante, colaborando com tendências de reskilling. Para concluir, citou uma frase que leva para a vida: “Só há uma coisa pior que formar bons colaboradores e eles partirem. É não os formar e eles permanecerem.”


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